Quem sabe eu ainda sou uma garotinha Esperando o ônibus da escola sozinha Cansada com minhas meias três quartos Rezando baixo pelos cantos Por ser uma menina má...
Quem sabe o príncipe virou um chato Que vive dando no meu saco Quem sabe a vida é não sonhar...
O ano era 2002, eu tinha 10 anos e estávamos num ônibus de excursão da escola a caminho do planetário. Todas as turmas estavam misturadas, quando essa menina, super popular chamada Karina, pode ser que seja com C, começou a cantar Malandragem. Todos comecaram a cantar junto, mas o que na hora me deixou envergonhada por não estar cantando com elas, hoje se tornou uma memória doce... Era a primeira vez que escutei Cássia Eller, mais especificamente essa musica, e cada verso dela tocava uma parte muito profunda de como me sentia quando criança e que até hoje ainda tento compreender.
Eu me senti sozinha em momentos que hoje eu sei que precisava me sentir vista, mas vista por quem importava pra mim quando criança. Fato eh que nao posso voltar no tempo e mudar o passado ou tentar ressignificar os sentimentos que afetaram em algum nível as decisões que tomei futuramente, e que fazem parte da mulher que sou hoje. E ter a consciência disto hoje, abre espaço para o acolhimento e auto perdão.
Quando você abre esse cantinho dentro de você, as peças do quebra cabeça por mais que estejam com as bordas danificadas, elas ainda se encaixam e você começa a redecorar o espaço, compra um vasinho de planta, abre as janelas pra entrar um pouco de ar... e voce segue!
Apesar de ser uma curadora espiritual, tinha dificuldade de entrar em contato com essa parte minha, a tal da criança interior. Talvez por vir carregada de muitos ressentimentos, muitas feridas que nunca se fecharam, e talvez nunca se fecharão.
Hoje, enquanto ninava meu filho de manhã, foi a primeira vez que de fato senti o acolhimento com aquela Carol criança, que tinha seus medos e anseios de ser cuidada. Senti dentro do meu coração uma ternura e amor que agora levarei comigo nesse passeio só de ida, chamado: VIDA!
Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...
Beijos Migles!